Alice: Chapeleiro, você me acha louca?
Chapeleiro: Louca, louquinha ! Mas vou te contar um segredo: as
melhores pessoas são.
(Alice no Pais das maravilhas)
Não sou daquelas pessoas que querem muito. Não. Muita coisa simples me faz feliz. Me preenche. Mas sou daquelas que se eu quero, quero muito. Se não quero, não quero nunca mais. Pra mim o bonito não pode ficar feio e bonito de novo. E essa história de copo meio cheio e meio vazio é furada. Se não for transbordando não serve. Não dá pra ser pela metade, morno, sem gosto. Tem que ter força, história, coragem e ponto de exclamação.Talvez eu fosse muito mais feliz se não fosse tão intensa. Se não fosse pega pelos pés e mãos, pelos fundilhos das calças por minha intensidade e ansiedade. Talvez devesse haver um meio termo ai. É talvez devesse. Mas falta treino e falta vontade. '' Não sei '', ''Talvez'', '' Tem que ver'', essas têm sido as minhas falas no ultimo mês. A confusão personificada. ''Viver cada dia como se fosse o último” deveria ser um bom conselho, só que não é nada prático já que, na verdade, ninguém tem energia pra isso.
A gente ta sempre em busca do que nos preenche e achar a verdade causa um grande desgaste interno. Faz a gente viver contando os dias. E quanto mais a gente vive, mais a gente paga por isso. Paga pra vestir, paga pra comer,estudar, respirar, pra viver e pra morrer. É, a gente paga. Paga com o bolso, com o coração,com o tempo, com o sorriso, com as lágrimas. E vai vendo a vida passar.Como quem está só esperando o mundo virar pra virar o jogo. Uma imensa tentativa de ser algo que preste pra alguma coisa. O que mata é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que deveria querer outra coisa. A gente fica inerte por medo de dar errado e deixa de viver novas experiências. É bem desafiador levantar. Sair da cama e mudar de vez. Tentar algo novo. Por que mudar, implica em sair da zona de conforto e a gente morre de medo disso. Por que o mais provável é que ninguém entenda. Que te ache incoerente. Então é mais fácil organizar os pensamentos desconexos numa folha de papel em branco. A verdade é que eu nunca cheguei a lugar nenhum sendo certinha ou coerente. Eu sei, a vida te cobra. Te dá um gole grosso de maturidade adquirida sem vontade. Por que você tem que crescer.Por que a gente precisa disso pra ser mais humano.
Eu admiro quem é inocente diante das coisas . Que ignora a dor, o medo, a insegurança, a dúvida, os joelhos que tremem cada vez que se tem que tomar uma decisão. Mas eu não sou assim. Eu sei o que eu sinto e sei o motivo de sentir. Eu sei por que cada coisa ta acontecendo e é isso que assusta. As vezes eu não sigo impulso porque penso demais. Por que eu só sei sentir, só que eu sinto muito, o tempo todo eu sinto. E nesses tempos em que nada acontece enquanto tudo espera , eu não sei lidar bem com isso. Não sei ser mais do que um monte de reticências. E sobre as reticências nada me cansa mais do que essas lacunas. Entre sentir, agir e ser. E o cuidado pra não se perder no meio do caminho. Nesses dias tudo que eu tenho vontade é de sair enchendo tudo de pontos de interrogação. Mil perguntas a serem feitas. Viver intensamente ou ficar nessa rotina que não faz nem cócegas na gente? Mais questões, mais lacunas .Indecisões. Possibilidades que quase perfuram seu estômago. E quanto mais respostas, menos sei o que fazer de mim. A gente quer explodir e tem que se conter, quer saltar e fica com os pés fincados no chão. Quer sentir e racionaliza. Tem sempre medo do novo, do que pode ser definitivo. Por que diferente do papel, o que se escreve na vida não se apaga mais.
Mas desistir não é uma opção. Posso correr o risco de dar certo. Posso não me conformar em ter uma vida rasa. Posso tentar tudo que me ferve por dentro. Por que ser uma pessoa só é desperdício. Por que não tentar nada nessa vida é desperdício. Por que ficar com o dedo no fundo do rio é não ter capacidade de nadar. E não nadar, definitivamente não é uma opção.