É noite, o frio lá fora arrebata. Comi um sanduba que o marido preparou e sentei aqui pra escrever esse texto. Tão cheia de fugas. Por que eu sinto falta de postar e por que ninguém entende a minha necessidade de sumir (por uns dias). Como posso tentar me livrar do que conquistei? Eternamente responsável...
Escrever é meu vício. Com minha mania de me expor em palavras e minha facilidade de viajar sem sair do lugar. A cabeça dá um nó. O coração salta. Me tire o papel e a caneta e estará me tirando o oxigênio. Só faço isso, frases soltas e textos despretensiosos. Se eu pensar demais e não escrever me dê um calmante. Me empreste seus ouvidos por um minuto, um minuto apenas. O coração pula no peito e parece que vai sair pela boca, me dê, por favor, me dê papel, me dê caneta, me dê alguma história pra contar, pra enlouquecer, pra sair do corpo, pra buscar sentido, pra me encontrar. Você não sabe, mas deveria saber. Meu coração anda de salto alto e minha vida é um caça palavras. Se eu parar não existo. Pode mandar enterrar. Ando precisando de coisa nova. Planos tenho muitos, as opções são tantas e o mundo gira e minha cabeça gira e tudo ao meu redor gira, só aqui, esse instante permanece parado. Talvez por que tenha que ser. Talvez por que eu precise enxergar a beleza do momento. Pra ter a sensação de que nenhuma hora esta sendo em vão ainda que eu fique aqui, sem mover uma palha.
Sem tempo para lidar com mediocridades. Totalmente sem tempo pra coisas que não se encaixam agora. A gente vai ficando velha e irritável. Falta paciência pra conviver com gente durante todo o horário de trabalho, quando na verdade, queria era dar um salto. Um Plus. Pegar a bolsinha e dizer, tô indo, fui ! Essa coisa é pequena de mais pra mim. Nesse relógio sádico onde o tempo não corre. Como se quisesse saber onde é o meu limite. Fase estranha a da espera, do amadurecer, onde dar um salto no escuro já não vira adrenalina. E crescer é um processo onde a gente vai deixando pedaços da gente pra trás e se unindo a outros pelo caminho. Eu já quis ganhar o mundo e hoje eu quero bem menos, quero me concentrar no agora. A gente quer cumprir todas as regras e acaba chegando a lugar nenhum. Então eu engulo o grito aqui dentro por que já entendi que algumas coisas ainda não tem tradução. Por que na busca da coerência a gente sempre se contradiz tentando achar o equilíbrio e por que faz tempo que parei de pintar o céu de rosa pra me sentir motivada. Não. Nunca fui de jogar dados ao acaso. Sou meio avoada assim, mas a bagunça da minha cabeça é organizada. É só a minha necessidade de viver que me mata. Cheguei num ponto da vida que estou sempre pronta pra largar qualquer coisa. Isso não quer dizer que não vá doer, quer dizer que eu já aprendi a desapegar.
Sorrir cansa. Chorar cansa. E dá medo encarar o que é definitivo. Mas eu preciso muito deixar acontecer um momento da renovação. É por isso que eu ando me sentindo assim, numa sala de parto, a espera de algo que ainda não sei como vai ser, se vai ser e que gosto vai ter. Por que criamos nossos planos e depois a gente mesmo se boicota. Não quero me perder. Dá medo se perder. Tenho uma enorme dificuldade em esperar por qualquer coisa. Por que nesses momentos o coração não faz qualquer relação com a razão. Por que de vez em quando eu tenho que contar com um ansiolítico pra segurar a onda da minha cabeça cheia de planos, de vontades e sonhos. Tudo faz drama dentro de mim, ainda que nada seja realmente urgente. Meus pensamentos são complexos demais. Sou cheia de dúvidas e brigo com minha dualidade o tempo inteiro.
Dá muito trabalho trocar de casca. Se livrar dos excessos exige uma reforma interior, que não acontece do dia pra noite, leva tempo a escolha do que guardar e do que jogar fora pra sempre. Pra mim, acho que o que falta é coragem e tempo. Realmente preciso desse balanço. Pensar no que estou fazendo e na direção que quero tomar. Quero olhar no espelho e ver o brilho nos meus olhos. Por que debaixo da minha maquiagem e por trás do meu sorriso, eu sou apenas uma mulher que deseja o mundo. Vou indo. Estou prestes a mergulhar, não joguem botes, não me salvem .....